
Um menino da 4ª série desabafou que não aguentava mais as brigas dos pais, a gritaria diária. Era um menino ansioso, angustiado e tenso.Uma menina da 1ª série entrou tímida e retraída e começou a chorar na sala de aula. Contei para a professora da turma, que conversou com ela e soube que sua mãe havia dito que não gostava mais dela porque não a defendera na briga com o pai, não ficara do lado certo. A essa altura, a menina já estava agarrada à professora, abraçando sua cintura. Fiquei perplexa. Ela, uma pequena e frágil criança de 7 anos, ouvindo a mãe culpá-la por algo que nem entendia. Queria que a filha ficasse contra o próprio pai. Infelizmente, isso é mais comum do que podemos imaginar.
Como fica a cabeça dessas crianças, expostas a tanto conflito, desequilíbrio e tortura emocional? As emoções ficam fragilizadas, a segurança nos pais e na vida, abalada. “Em quem posso confiar?”
Há crianças que vencem o medo e tentam se abrir com os pais, compartilhando suas emoções e tristezas sobre a forma de tratá-los e de se tratarem.
Após quebrar essa grande barreira e ter coragem, deparam-se com outra ainda maior: a surpresa da total indiferença dos pais quanto aos seus sentimentos.
Há pais que não ouvem os filhos e não consideram o que sentem e compartilham, acham que tudo é “bobagem de criança”, dizem que não têm tempo para "besteiras”. A barreira do relacionamento fica mais forte e intransponível.
Muitos não entendem que crianças são observadoras e sensíveis, captam o que acontece no lar, mesmo que às vezes não consigam verbalizar. No íntimo, tudo o que mais desejam é que seus pais sejam felizes, vivam em paz e se amem. Anseiam pela harmonia em seu lar, o que, infelizmente, não ocorre.
A criança fica frustrada e desesperançada. Muitas precisam de um escape para sair desse ambiente negativo. A fuga pode ser a televisão ou os games, a comida, a rebeldia e revolta em relação aos pais ou o apego demasiado em outros amigos ou pessoas que a compreendam. Outras desenvolvem depressão e distúrbios de ansiedade ou buscam as drogas. Cada criança pode reagir de uma maneira.
A verdade é que a criança sente-se sem apoio, muito sozinha e isolada em meio às brigas, com um grande vazio interior. Ela gostaria de fazer algo, mas é impotente. Se os pais não lhe dão atenção e carinho, subestimando suas necessidades, sentem-se também sem voz, perdidas e negligenciadas.
Cabe aos pais repensar urgentemente o ambiente que estão construindo para si e passando a seus filhos, buscar ajuda para mudar e rever seus valores.
Afinal, que exemplo está sendo deixado às crianças?
Fabiana Ilario
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