22 de abril de 2015

Filhos melhores

Na escola em 1969 e em 2009...

"Todos pensam em deixar um planeta melhor para os nossos filhos... Quando é que pensarão em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"

Uma criança que aprende o respeito e a honra dentro da própria casa e recebe o exemplo dos seus pais, torna-se um adulto comprometido em todos os aspectos, inclusive em respeitar o planeta onde vive.

27 de abril de 2012

Aos pais

Se insisto na importância do olhar fundamental me conduzindo por um caminho ou outro, não estarei atribuindo excessiva responsabilidade à família primeira - aos pais?
Penso que é assim.
O amor primeiro, aquele entre pais e filhos, vai determinar nossa expectativa de todos os amores que teremos. Nossa vivência inicial vai marcar muitas de nossas vivências futuras.
Por isso, ter filhos e criá-los é cada dia gerar e pari-los outra vez, sem descanso.
Todo amor tem ou é crise, todo amor exige paciência, bom-humor, tolerância e firmeza em doses sempre incertas. Não há receitas nem escola para se ensinar a amar. Uma arena de combates destrutivos me prepara tão mal para ser uma pessoa inteira quanto o sossego artificial dos problemas ignorados. Lutas podem ser positivas, competição faz crescer; amar é impor e aceitar limites.
A relação familiar ocorre entre personalidades diferentes ou até antagônicas, predeterminadas a viverem longo tempo entre quatro paredes de uma mesma casa (sem possibilidade de divórcio se forem pais e filhos), reunidos num caldeirão fervente de desencontros e desconsertos:
"Sempre senti que minha mãe não sabia bem o que fazer comigo!"
"Meu filho desde bebê parecia sempre desconfortável, até nos meus braços."
"Nunca entendi o que realmente meu pai queria de mim, era sempre um estranho."
"Qualquer coisa química, de pele, não funcionava entre minha mãe e eu, a gente não gostava de se abraçar."
"Vivemos sempre em universos diferentes e distantes um do outro."
"Nunca consegui agradar à minha mãe, ela me criticava o tempo todo, e, mesmo agora que sou adulta e ela bem idosa, continuamos no mesmo tom."
"Meu pai parecia irritado só de me olhar. Me cobrava tudo. Por mais que eu me esforçasse, sempre me sentia seu devedor."
Esse grupo familiar que não escolhemos e nos define tanto pode ser um porto confiável de onde partimos e ao qual podemos retornar, ainda que em pensamento. Aquele lugar que será sempre o meu lugar, mesmo que eu já não viva nele.
Mas é necessário cortar com o que ele eventualmente tem de sufocante: pois pode ser também jaula, voragem, fundo de poço. Se ficarmos demais presos, teremos de nos puxar pelos próprios cabelos para outro espaço onde mesmo com susto e incertezas a gente possa respirar e decidir o que fazer agora.
Não podemos alterar o passado. Dramas familiares podem ser raízes venenosas por baixo da terra do convívio ou da alma. A lei do silêncio, do segredo obsessivo, pode constituir grave perturbação. Mas podemos mudar nossa postura em relação a tudo isso, ainda que em longos e dolorosos processos, que significarão a diferença entre vida e morte.
Posso me libertar. Posso me reprogramar para discernir o que é para mim, neste momento, o "melhor" - ou o possível.
Meu conceito de mundo inibe minhas decisões e me consome e faz encolher, ou me força a enfrentar alternativas. Nessa hora entrarão em jogo a minha bagagem inata, o que eu tiver construído em mim, os recursos aos quais posso apelar - e minha confiança de que posso realizar isso.
Não comandamos o destino das pessoas amadas, nem ao menos podemos sofrer em lugar delas, mas ter filhos é ser gravemente responsável. Não apenas por comida, escola, saúde, mas pela personalidade desses filhos: mais complicado do que garantir uma sobrevivência física saudável.
Não significa que nós os formamos ou deformamos como deuses onipotentes. Ao contrário, parte do drama de paternidade e maternidade é não podermos viver por eles nem os preservar de seus destinos. Fazer suas opções. Mas seguramente nossa maneira de ser, de viver e de pensar quando ainda eram pequenos, quando ainda pareciam "nossos", vai influir em tudo isso.
Não defendo os pais vítimas, que "por amor aos filhos" desistem de sua própria vida. Não admiro a mãe sacrificial que anula sua personalidade com a mesma alegação, para no fundo culpabilizar os filhos e lhes cobrar o que lhe "devem" e até o que "não devem".
Mas será sobre nós, nossa esperança ou pessimismo, nosso afeto ou frieza, que os filhos darão os primeiros de seus muitos passos. E farão isso com seus filhos futuramente. Serão tão fundamentais para eles quanto os pais de nossos pais foram na geração anterior.
Atrás e à frente de cada casal humano estende-se uma longa cadeia de erros e acertos geradores de humanidade.

Lya Luft, em Perdas e Ganhos

3 de novembro de 2011

Separação dos pais

A separação sempre é uma situação muito difícil e, geralmente, traumática para pais e filhos. Os filhos desejam que seus pais se deem bem e vivam em harmonia, amor e união. Ficam tristes com brigas e discussões, abatem-se com problemas. Cada um reage de um modo diferente.
Antes de optar pelo caminho da separação, é importante que os pais busquem ajuda da família, amigos, profissionais, conheçam-se melhor, tentem enxergam os lado do outro e não só o seu, pensem nos filhos.
Abaixo, dicas da Revista Crescer para minimizar o impacto na vida dos filhos no caso de a separação de fato ocorrer.

A partir dos 7 anos, as crianças conseguem formar conceitos, percebem o que está acontecendo, têm um julgamento mais apropriado da situação. Tendem a fazer muitas perguntas e a manifestar tristeza e descontentamento de maneira clara e direta. O que elas precisam? De colo.
A psicanalista Miriam Chicarelli Furini afirma que, quanto maior a criança, maiores são suas condições psíquicas para lidar com a ruptura. Mesmo assim, há o sofrimento, claro em sintomas como distúrbios de sono, alterações no comportamento, irritabilidade, desejo de se isolar, mudanças no apetite.
A escola é uma boa vitrine. Atitudes mais agressivas com amigos e professores, comportamentos mais agitados, isolamento e queda no desempenho são alguns sinais de que a criança não está bem. Por isso é fundamental que a escola seja informada do que está se passando em casa.
A rotina da criança e seu círculo social, de qualquer forma, devem ser mantidos.É importante para ela, nesta fase, ir à escola, preservar relacionamentos com amigos, ter a chance de trocar experiências, tirar a mente um pouco do ambiente familiar e sustentar as responsabilidades do dia-a-dia. Bem como é fundamental manter os eventos sociais familiares, de ambas as partes. Se o dia da festa calhar de ser em final de semana ou dia em que o combinado seja estar com o outro pai, é hora de negociar encontros substitutos. Tudo pela convivência.
No geral, tente sempre conversar. É importante deixar a criança expressar sua tristeza, sem pressioná-la para reagir positivamente. Além de falar, a criança deve ter outras maneiras para expressar seus sentimentos, extravasar, deixar fluírem suas emoções. Isso pode acontecer por meio da prática de um esporte, em atividades com arte e música e até por meio de brincadeiras. Os pais têm de ficar atentos a isso e, se notarem acriança demasiadamente fechada, uma terapia pode ser uma boa alternativa.

Revista Crescer

25 de outubro de 2011

Parque das Bicicletas

Localizado nas imediações do Ibirapuera, o Parque das Bicicletas é um local planejado especialmente para quem gosta de praticar esportes e ficar em contato com a natureza.

Com uma área total de 20 mil metros quadrados, o parque oferece, além das ciclovias, uma pista de caminhada, espaço para patins, skates, patinetes, área de lazer e quiosque.

As pistas de ciclismo são asfaltadas, possuem cerca de três mil metros de extensão e velocidade máxima permitida de 20 km/h. Espécies típicas da flora brasileira, como palmeiras, sebipirunas, ipês e pitangueiras fazem parte do ambiente.

O parque conta ainda com um bicicletário, para o aluguel de bikes, e um espaço específico para as crianças aprenderem a pedalar tranquilamente.

Atenção: Parte do Parque das Bicicletas vai virar canteiro de obras para a Linha 5-Lilás do metrô.O uso de bicicleta, triciclos e patins ocorrerá em espaço reduzido. "O Parque das Bicicletas será devolvido à população, como se encontra hoje, totalmente reurbanizado e com o paisagismo melhorado", diz a nota, que não fala em prazos.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cidades/sp/mat/2011/10/13/parte-do-parque-das-bicicletas-em-sp-vai-virar-canteiro-de-obras-do-metro-925569916.asp#ixzz1bpP21RmL
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Serviço
Endereço: Alameda Iraé, 35 – esquina com a Avenida Indianópolis
Horário: diariamente, das 6h às 22h
Tel.: (11) 3396-6543
Entrada franca

Criatividade muda a vida...

Criatividade muda a vida. Crie algo novo.

18 de outubro de 2011

Pai

O pai propicia ao filho expansão psíquica e social

A função paterna permite à criança ampliar recursos como as capacidades de elaboração, fantasia e simbolização.

Depois de vivenciar a forte parceria com a figura materna, nos primeiros meses de vida, o bebê passa a reconhecer o pai como terceiro – aquele que se interpõe entre ele e a mãe para separá-los, abrindo espaço para a entrada dos outros significativos da família. Essa inserção tem sentidos importantes para a criança, entre os quais sua introdução na cultura por meio de interdições, imposição de limites e contornos. A função paterna propicia uma espécie de abertura psíquica – tanto interna, subjetiva, como voltada para o outro, o externo –, o que permite à criança ampliar recursos como as capacidades de elaboração, fantasia e simbolização, ao mesmo tempo que expande suas possibilidades de compartilhar e diversificar relações sociais.


A identificação é um dos principais dispositivos para a vinculação do bebê ao outro e ao grupo. Inicialmente, mãe e filho se identificam. Ao reconhecer o pai, a criança passa a inspirar-se em sua imagem. Nesse processo de reciprocidade, o bebê tem condições de explorar as próprias expressões de afeto e abrir espaço para estabelecer novos laços interpessoais.


Revista Mente e Cérebro

6 de outubro de 2011

Meu filho, você não merece nada

REVISTA ÉPOCA - 11/07/11
ELIANE BRUM
A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada
   Divulgação
ELIANE BRUM
Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).
E-mail: elianebrum@uol.com.br
Twitter: @brumelianebrum

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.


Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.


Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.


Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.


Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?


Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.


Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.


Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.


A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.


Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.


Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.


Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.


Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.


O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.


Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.


Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.


Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.


Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.


(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.)